sexta-feira, 1 de julho de 2011

CIGARROS MARCA DIABO

Neste ultimo fim de semana estive visitando Pelotas, na 19ª FENADOCE (feira nacional do doce) uma beleza, muito doce, muita gente e para minha surpresa vi exposto os CIGARROS MARCA DIABO.

Desde os tempos de criança, ouço a frase:
“- Isto não presta, é marca diabo!”.

A condenação vale para qualquer produto de má qualidade, que deve ser sumariamente rejeitado. A origem da picaresca expressão deve-se Simões Lopes Neto, maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul autor de “Casos do Romualdo” e “Lendas do Sul” entre outros.

Simoes Lopes Neto nasceu em Pelotas, em 9 de março de 1865, na Estância da Graça, a 29 quilômetros da cidade e de propriedade de seu avô paterno, João Simões Lopes Filho, o Visconde da Graça e morreu em 14 de junho de 1916, em Pelotas, aos cinqüenta e um anos.


Vejamos a história:
Em julho de 1901 Simoes Lopes Neto entrou de sócio na recem criada sociedade comercial João Simões & Cia para instalação de uma fabrica de cigarros como anunciada no jornal Correio Mercantil do dia 30 de julho, em matéria de primeira página: “Um novo e importante estabelecimento fabril de fumos acaba de abrir-se nesta cidade, ...... Trata-se da fábrica de cigarros e beneficiação de fumos, marca ‘DIABO’, que os Srs João Simões & Cia., operosos industrialistas.....” Nesta mesma edição foi publicado um anuncio que evidentemente foi redigido por Simões Lopes Neto: 

“Fábrica de Fumos e Cigarros marca Diabo. Comunicamos ao comércio em geral que temos instalada e funcionando a nossa fábrica de fumos, cigarros, charutos, papéis para cigarros e outros artigos concernentes ao mesmo, sob a marca – Diavolus...."

Nesta época havia em Pelota quatro fábricas similares em pleno funcionamento: a Santa Bárbara, desde 1879, a Santa Cruz fundada em 1892, a São Rafael desde 1894 e a Manufatura de Fumos Gentilini fundada no inicio dos anos 90. Ainda pesava na concorrencia a boa distribuição que fazia nos mercados do sul a tradicional fábrica de charutos Pook de Rio Grande, sem falar na presença de fumos e cigarros de outras marcas vidas do exterior e do centro do pais.

Irreverencia ou não, Simões enfrentava o desafio e contrapondo-se à evocação aos Santos, presentes em tres das quatro fabricas de cigarros da cidade, brandia o nome do diabo. E não contente com a irreverência, ainda ilustrou as carteiras de cigarros e os anúncios de jornal com a figura do demônio, de rabo em pé e soltando fumaça pelas ventas. Estava então criada a fábrica de fumos e cigarros marca Diavolus, que abasteceria por alguns anos o mercado gaucho dos cigarros “União Gaúcha”, “General Osório”, “Dr Berchon”, “Clube Caixeral”, “Coios” e “Macanudos”, veja a imagem.

Os anuncios da época insistia: “peçam sempre a marca Diabo”. Assim os proprietários dos fumos e cigarros marca Diabo passaram a investir pesado na propaganda e ganharam a simpatia popular e a antipatia da Igreja e dos carolas. O negócio seria mantido por alguns anos e os cigarros marca Diabo receberiam em 1904 medalha de prata na exposição internacional de Saint Louis nos Estados Unidos.

A audácia causou um sucesso inicial, com filas de pessoas querendo provar a novidade, mas era demais para a conservadora Pelotas de do inicio dos anos 1900, em pouco tempo, uma onda de boatos tomou conta da cidade, gerada não se sabe de onde. A população passou a comentar abertamente que a Igreja Católica preparava o ato de excomunhão do escritor. E que os fumantes da “marca do diabo” igualmente não seriam poupados – estavam todos condenados ao fogo do Inferno.

A partir do ano de 1906 não se leem, nos jornais e revistas as propagandas da fábrica de fumos e cigarros de João Simões & Cia., numa indicação clara de que o negócio estava no fim. O malogro da empresa foi atribuido à guerra subterranea da Igreja Católica, inconformada com a invocação pública do demonio.
Fonte
http://www.coletiva.net/site/coluna_detalhe.php?idColuna=2742
João Simões Lopes Neto: uma biografia - Resultado da Pesquisa de livros do Google em
http://books.google.com.br
http://www.overmundo.com.br/overblog/um-escritor-universal-com-sotaque-campeiro

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